A água potável e o saneamento são essenciais para o controle da expansão do vírus COVID-19 pelo mundo. Aliás, acesso à água é um direito humano, básico para a garantia da qualidade de vida de qualquer processo social.
Há também a esperança que esta nova crise possa ser uma oportunidade para acelerar o desenvolvimento de estratégias de acesso à água potável e na adoção de medidas eficazes contra a escassez e inseguridade hídrica dos aglomerados no mundo.
Atualmente são 3 as pandemias reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS): a AIDS, a MERS e a COVID-19, ou corona vírus, como conhecida popularmente no Brasil. A OMS afirma que as rotas de contágio da COVID-19 são respiratórias ou por contato, não reconhecendo casos por transmissões hídricas.
É fato que poderíamos acrescentar outras distorções “pandêmicas” como o feminicídio, a fome, guerras por petróleo, abusos econômicos, desigualdades de oportunidades, violências aos povos originários, mineração desregrada, etc, mas focaremos aqui na crise mais atual, a COVID-19.
A seguir, relatamos uma pesquisa de Águeda García de Durango, editora chefe da iAgua ↗ e da Smart Water Magazine, que encontrou dados sobre ações governamentais quanto à água pelo mundo, adicionando oportuno.
Águeda realizou hoje (07/abril/2020) o seminário virtual “iAgua Webinar: El impacto de la COVID-19 en el sector del agua”. Se puder assista ao vídeo completo ao final dos textos e visite os links indicados, com certeza há muitos fatos hídricos relevantes não abordados.
Sempre aceitaremos sugestões e esperamos que estejam sadios e seguros nesta quarentena global.
#1 A África, poucas informações e muito medo em potencial
Neste continente estima-se que 75% da população não tem acesso às águas para lavar as mãos, principal medida para evitar a contaminação com o COVID-19.
Não são garantidos os números oficiais de poucos casos, principalmente dada a dificuldade de controle dos processos de saúde locais. É a grande incógnita e em muitos dos cenários possíveis o continente mais vulnerável.
O continente africano receberá investimentos das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de minimizar as deficiências na proteção contra a pandemia, com ações como a instalação de estações para lavar as mãos em assentamentos e intensificação dos incrementos nos esforços de distribuição de alimentos e equipamentos de saúde básicos.
Veja mais
https://www.aa.com.tr/en/africa/analysis-covid-19-pandemic-great-danger-awaits-africa/1789840
#2 A América do Norte, muito sofrimento nos EUA e Canadá
Líder no ranking global de casos de COVID-19, os EUA enfrentam inúmero desafios em seu forte - e privado - sistema de saúde.
Em termos de sistemas hídricos, nestes países a cobrança pelos serviços continua ativa e caso haja dificuldade no pagamento é necessário o contato prévio com a empresa responsável. As visitas residenciais para reparos estão limitadas.
Em 90 cidades norte-americanas o corte foi proibido e apenas em uma delas houve concordância em reestabelecer os serviços já cancelados por falta de pagamento.
Em um comunicado conjunto lançado no dia 18 de março pelas associações governamentais e empresariais do setor, as entidades afirmam que os norte-americanos e canadenses podem e devem continuar a usar e beber água de suas torneiras, dado que o COVID-19 não está presentes nos suprimentos de água potável com processos ativos de desinfecção.
Vale lembrar que uma das entidades, a Associação Metropolitana de Agências de Água (AMWA), também atende o Alaska e Porto Rico.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) relaxou nas regulações ambientais, retirando sanções em alguns itens relativos ao ar, águas e produtos perigosos, principalmente em situações que possam criar dificuldades à manutenção do estilo de vida.
Veja mais
#3 Na Oceania a Australia, do fogo à pandemia
A Austrália adotou um pacote financeiro de estímulos para as empresas prestadoras de serviços essenciais como a eletricidade e as águas.
Este pacote também inclue arranjos quanto aos impostos por veículos motorizados, taxas de serviços de emergência e tarifas de transporte público.
Veja mais
https://www.aquatechtrade.com/news/article/coronavirus-and-water-wastewater-global-advice/
https://elpolitico.com/tag/naciones-sin-covid-19/
https://www.expansion.com/sociedad/2020/03/17/5e70de95468aeb781d8b4673.html
#4 Na Ásia, muitas dificuldades, crimes e pouca informação
Emirados Árabes Unidos
Pacotes governamentais aprovaram medidas para diminuir o impacto da pandemia em setores da sociedade como varejistas, hotéis e pequenas empresas. Também criram um desconto de 20% e alogamento dos pagamentos por 6 meses, desde o mês de abril, das taxas de água e eletricidade.
Turquia e Síria
Vivendo processos bélicos e dramas com imigrações, a organização internacional Human Rights Watching afirma que os respectivos governos não estão tomando as medidas de proteção necessárias à contenção da pandemia, indo além e intensificando as agressões à garantia de direitos humanos.
Na região de Allouk são denunciados casos de corte no abastecimento de água potável para populações e acampamentos de vulneráveis.
A atuação do governo turco está comprometendo ainda mais a capacidade de atuação das organizações e agências humanitárias na proteção básica à pandemia no norte da Síria.
Jordânia
Tido como o quinto país mais vulnerável em questões hídricas do mundo, além da escassez de águas há extensas preocupações com o impacto do comércio global dada a pandemia, agravando ainda mais o cenário de dificuldades do país
Irã
O governo do Irã anunciou o início de 38 projetos de eletricidade e águas nos próximos 3 meses, em 15 províncias, com o investimento de aproximadamente 400 milhões de dólares em obras, muitas delas hídricas e de saneamento.
Bahrein
O governo anunciou que pagará as faturas de água dos cidadãos de todo o ano de 2020, no valor equivalente aos gastos do período de 2019.
Veja mais:
https://ideas4development.org/en/covid-19-in-china-patient-zero/
https://www.hrw.org/news/2020/03/31/turkey/syria-weaponizing-water-global-pandemic
#5 Europa, o epicentro e desafios insurgentes à resiliência
Reconhecidos como o epicentro da distribuição do vírus COVID-19 pelo mundo, os países europeus adotaram medidas de conteção do impacto em setores fundamentais da vida cotidiana, incluindo a água.
A União Europeia proibiu a entrada de estrangeiros na zona de fronteira aberta do Tratado de Schengen*, com exceção de Romênia, Bulgária e Croácia, além de Irlanda e Reino Unido que estão em processo de separação da UE.
Em comum, os países decretaram o encerramento de atividades não essenciais, iniciando um confinamento obrigatório com medidas específicas caso a pessoa queira sair de casa para comprar alimentos
Italia
Decretaram o encerramento de atividades não essenciais. Suspenderam os pagamentos de conta de água, energia e gás natural
França
Decretaram o encerramento de atividades não essenciais. Suspenderam os pagamentos de conta de água, energia e aluguéis
Reino Unido
Utiliza, temporaria e midiaticamente, celebridades para a execução de serviços básicos, mediante treinamento prévio. Ampliaram os esforços de entrega da água para pessoas necessitadas e adotaram novas medidas que fortalecem os trabalhadores do setor de água e saneamento.
Vaticano
Decidiu enviar recursos para manutenção das instalações hidráulicas de sua responsabilidade em países pouco desenvolvidos
Veja mais:
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-51872622
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/covid-19-a-resposta-da-europa-ao-novo-coronavirus_es1217770
*O Tratado de Schengen é uma convenção entre países europeus sobre uma política de abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas entre os países signatários. Um total de 30 países, incluindo todos os integrantes da União Europeia na época (exceto Irlanda e Reino Unido) e três países que não são membros da UE (Islândia, Noruega e Suíça), assinaram o acordo de Schengen. Liechenstein, Bulgária, Roménia, Chipre e Croácia estão em fase de implementação do acordo. (Fonte: Wikipedia)
#6 A América Latina, entre a dengue e colapsos sanitários
Enquanto todos no mundo voltam sua atenção para a COVID-19, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) assinala que em 2019 a dengue atingiu o patamar de 3.139.335 casos de infecção transmitida por mosquitos, causando 1.538 mortes na América Latina.
Colômbia
Iniciativas governamentais específicas pretendem garantir a continuidade do fornecimento de água potável, assim como a limpeza e desinfecção frequente dos espaços públicos.
O governo assumiu o compromisso da reconexão aos serviços de água, gratuitamente, de pessoas anteriormente desconectadas do sistema. Aplicou também descontos na cobrança das taxas de esgoto e suspensão de impostos em insumos para potabilização de águas.
Em algumas zonas sensíveis do país iniciou a escavação de poços e o envio constante de caminhões pipa para abastecimento.
El Salvador
Após decisão governamental, El Salvador suspendeu o pagamento das taxas para água, energia elétrica, telefone e internet durante 3 meses que deverão ser pagos nos próximos dois anos, sem a perda de nenhum direito ou qualificações creditícias.
Esta suspensão se aplica à pessoas naturais ou jurídicas afetadas pela pandemia, como autônomos, trabalhadores que perderam seus empregos, restaurantes, micros ou pequenas empresas que perderam seus vencimentos, artistas, entre outros.
Perú
A Superintendência Nacional de Serviços e Saneamento (SUNASS) informa que as empresas prestadoras de serviços de água potável e saneamento não podem suspendê-los por falta de pagamento.
Estabeleceram protocolos de segurança para medidas emergenciais e de manutenção do sistema, iniciando também campanhas de educação ambiental, principalmente dado o aumento do consumo residencial.
Equador
Sofreu um colapso em seu sistema de saúde que chocou o mundo, motivando pedidos públicos de desculpas das autoridades.
Estabeleceram protocolos de segurança especiais para os serviços ampliados e aos trabalhadores do sistema de saneamento.
WOP-LAC (Aliança Mundial de Operadores de Água na América Latina e no Caribe)
São 15 as empresas operadoras de águas, nos 8 países pertencentes à WOP-LAC, que estão em: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Honduras, México e Uruguai.
Financiadas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), estas empresas estão com operações centradas nos aspectos operacionais, visando a manutenção dos serviços prestados.
Visam também garantir as medidas já em andamento quanto a resolução de problemas de fornecimento ou escassez, como no caso crítico do Chile.
Bloquearam seus centros de atenção aos clientes, intensificando o uso da internet para soluções alternativas em atendimento. Também estão reorganizando suas formas de trabalho de modo a preservar a saúde de suas equipes e operadores técnicos.
Veja mais
https://www.sunass.gob.pe/websunass/
http://www.aloas.org/institucional/Pages/Qu%C3%A9-es-WOPLAC.aspx
#7 El impacto de la COVID-19 en el sector del agua
Veja a gravação do webinar "iAgua Webinar: El impacto de la COVID-19 en el sector del agua" no Youtube
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